domingo, 27 de janeiro de 2013

Do desconhecido ao amigo


 No outro dia, estava à espera do autocarro e tudo à minha volta acontecia em perfeita sintonia. Nada de novo, nada fora do normal; estava a ser uma manhã bastante normal.
Entre umas palavras, que vão surgindo nas conversas dos “habitantes de paragem”, estava uma mãe a falar com o seu filhote, ele não teria mais do que quatro anos mas ouvia a sua mãe com toda a atenção. Enquanto esperávamos pelo autocarro, a mãe mais do que uma vez lhe disse: “não confies em estranhos.
Esta mãe fez-me recordar a minha infância onde a minha mãe, também várias vezes me disse o mesmo e tenho quase a certeza que mais ou menos passamos pelo mesmo. Acho que deve ser das primeiras frases que ouvimos, ainda em pequenos, quando começamos a “ir à rua”, isto é, quando o nosso meio familiar é alargado ao infantário ou à escola. A preocupação dos pais é uma constante na vida dos seus filhotes; não se cansam de os alertar para os desconhecidos que andam na rua. Com eles o melhor a fazer é estar sempre de pé atrás, nunca se sabe o que pode acontecer.
Até aqui nada de novo mas não foi isto que me fez escrever, foi sim outra experiência que só posso explicar recorrendo a esta:
Estava eu com um grupo de crianças da catequese e durante uma conversa surgiu a questão: “vocês confiam em Jesus?” Quase todas as crianças me disseram que sim; a excepção foi uma menina que muito timidamente levantou o dedo e me disse: “eu não confio em Jesus; Ele é um estranho”. Posso dizer-vos que por momentos fiquei sem reacção e dei por mim interiormente a dar razão à pequena.
Ela tinha toda a razão para não confiar em Jesus. Toda a sua pequena vida tinha sido marcada por um conselho, por parte das pessoas que mais amava, para não confiar num estranho; agora ela estava a aplicar o mesmo raciocínio com Jesus e com razão. Jesus para ela ainda era um estranho; já tinha ouvido falar Dele, já tinha até falado com Ele mas não passava de um estranho.
Hoje dou por mim a pensar no mesmo assunto e vejo que o raciocínio da pequena “Maria”, está mais presente do que parece na mente de muitos cristãos adultos os quais, não confiam em Jesus por Ele ser ainda um desconhecido.
Todos nós já vimos o presidente da república, já o ouvimos falar, já ouvimos falar dele, já o vimos rodeado de muitas pessoas, sabemos de muitas coisas feitas por ele, até lhe podemos escrever se assim quisermos no entanto não deixa de ser um estranho. Pessoalmente não posso confiar nele pois não existe entre nós uma relação, pessoal, que me possibilite um conhecimento dele ao ponto de me levar à confiar nele.
O mesmo se passa com muitos cristãos que já ouviram Jesus, já puderam falar com Ele, até sabem como Ele agiu numa ou noutra situação mas não passa disso; não passa de um simples saber coisas Dele. Não o conhecem. Jesus continua a ser para eles um estranho, um “ele” nas suas vidas; alguém que está de fora. Quem está do lado de fora das nossas vidas não nos inspira confiança. Quando começamos a relacionar-nos com alguém, começamos a poder considerar essa pessoa digna de confiança, um “Tu”; todos aqueles que nas nossas vidas passaram de um “ele” (que está fora de nós) a um “tu” (que faz parte de nós), inspiram-nos confiança.
A grande questão com que nos deparamos face a um relacionamento com Jesus, é a forma como esse relacionamento se realiza. Nós não O podemos conhecer tal como podemos conhecer todos os que nos rodeiam, isto é, com os nossos cinco sentidos. Digamos que para conhecermos; para nos encontramos com Jesus temos que utilizar um outro “sentido”. Só O podemos conhecer dentro de nós. Para isso temos que nos abrir a Ele; baixar as nossas defesas, baixar as defesas que nos foram apurando ao longo da nossa infância.
A passagem de Jesus de um desconhecido a um Amigo, dá-se inicio precisamente quando baixamos as nossas defesas e começamos a confiar num até então desconhecido. Geralmente temos a tendência de nos colocarmos perante Deus da mesma forma que os colocamos perante um estranho; digamos que é mais fácil, não nos coloca em causa.
Agora só para nós os dois que ninguém nos ouve: “ficamos sempre a perder quando agimos assim...”

Luís Sousa

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